Olá!!
Ando
sumida por aqui, mas voltei... mais animada ainda. Várias pautas haha
Mas por
agora começo com um extra que pode fazer toda a diferença no planejamento de um
grande intercâmbio: a cidadania europeia/italiana.
Bom, para
quem não sabe, sou ítalo-brasileira – assim como milhões de brasileiros
descendentes dos imigrantes italianos que chegaram no Brasil entre 1860 e 1970.
Porém essa minha situação foi reconhecida burocraticamente no ano passado
(2017).
Devido a
crise no Brasil, o número de processos de reconhecimento da cidadania italiana
tem crescido muuuuito, com a expectativa de milhares de pessoas pela nova vida
em um país europeu.
Por que isso? Explico...
Como
tenho mostrado nos meus posts anteriores, a ida para a Irlanda envolveu uma
série de documentos, leis a serem seguidas, prazos, enfim... muita burocracia
para limitar certas atividades e o tempo no país. Isso acontece com qualquer
país para o qual formos visitar dentro da Europa, e muitos em outros continentes
também. A diferença está na lei de cada uma delas, que exige coisas diferentes,
prazos diferentes, documentos diferentes, enfim necessita uma pesquisa
individual para cada um deles. Mas o ponto aqui é a cidadania italiana. A
pessoa que possui a cidadania italiana vive em uma perspectiva totalmente
diferente de um imigrante brasileiro. A Itália, como um dos 27 países da União Europeia,
confere a seus cidadãos passe livre em todo o espaço europeu. Ou seja, a pessoa
é reconhecida como cidadão europeu, com os mesmo direitos e deveres que
qualquer um deles:
- Transito livre entre os países sem necessidade de qualquer tipo de visto, e com maior rapidez no check-in alfandegário (possui fila diferenciada que em muitos casos apenas tem reconhecimento automático do passaporte, liberando a entrada em seguida sem sequer falar com alguém);
- Residir na Itália ou qualquer país da Europa pelo tempo que quiser;
- Mesma direitos que qualquer europeu para comprar casa, votar, auxilio-desemprego, contas bancárias, emprego, negócios, etc;
- Acesso facilitado as universidades, que pode custar até três vezes menos para um europeu do que para um brasileiro, e usufruir de bolsas oferecidas especificamente a cidadãos italianos;
- Até para os Estados Unidos, que mantém relações estreitas com a União Européia, não é exigido o visto de entrada comum aos brasileiros, que é feito através de entrevista. Os italianos utilizam o ESTA, que é um formulário eletrônico que deve ser preenchido e enviado para aprovação, dando então a permissão de turismo por 90 dias no país. Outra vantagem é em questão a possibilidade do visto de residência no país. Brasileiros também podem conseguir a residência como investidor nos EUA, porém o valor mínimo desse investimento deve ser de 500 mil dólares. Para italianos esse valor mínimo cai para 100 mil dólares.
Enfim,
são inúmeras as vantagens, seja na Europa, nos Estados Unidos, ou em outros
países como o Japão, que também facilita a entrada de europeus. Até no Brasil
existe vantagem, pois pode ser um diferencial no currículo, uma vez que pessoas
com experiência em viagens e assuntos internacionais transmitem conhecimento e
cultura.
Colocado
as vantagens, conto um pouco de como começou essa história para mim.
Eu sempre
ouvi dizer que meu bisavô tinha vindo da Itália. Mas para mim era só isso; não
havia tido maiores informações, e muito menos sabia que esse tipo de coisa
poderia ser reconhecida em documentos. Porém quando iniciei as minhas pesquisas
burocráticas para entrar na Irlanda comecei encontrar as informações dessas
vantagens de cidadão europeu/italiano, e que tinham brasileiros que possuíam esse
direito. Foi quando pesquisei mais do que se tratava e descobri todas essas vantagens
citadas acima. Então confirmei com minha mãe se era isso meu mesmo: meu
bisavô era italiano. Confirmado isso fui entender como era esse processo de
reconhecimento. Muitos detalhes, muita burocracia e muito tempo e dinheiro.
Sabia que para a minha viagem que já estava toda programada não daria tempo,
mas comecei com o que estava ao meu alcance para ver se mais pra frente seria
possível.
Comecei
estudar detalhadamente como o processo funcionava. Praticamente decorei mesmo.
Hoje falo tudo que sei para quem
me pede ajuda, assim como vou contar aqui mais detalhadamente nos próximos
posts.
Com tudo
muito bem estudado comecei colocar em prática: a procura de cada documento.
Explico.
A BASE de todo o processo é juntar toda documentação (certidões de nascimento,
casamento e óbito) de cada pessoa da sua árvore genealógica que te ligam ao
italiano nato. No meu caso é: EU > MINHA MÃE > PAI DA MINHA MÃE > MEU
BISAVÔ ITALIANO.
Precisei emitir
todas essas certidões - de cada um - em inteiro teor, fazer tradução para o
italiano por tradutor juramentado, e apostilar (um tipo de legalização que se
faz para o documento ter validade fora do país) tanto os originais quanto as traduções.
Possuem alguns outros documentos
que precisam ser emitidos buscando virtualmente, para saber se realmente o
italiano não se naturalizou brasileiro, para avaliar se realmente é possível
obter o reconhecimento da cidadania, porém explico mais detalhadamente num
outro post.
O desafio
principal, geralmente, é a dificuldade em encontrar essas certidões.
Para os
nossos e dos nossos pais talvez esteja mais fácil, mas para os dos avós e bisavós
pode ser mais difícil. Acontecem casos de não acharem nem a certidão comum para
saber onde foi registrada a certidão (pois é lá que devemos emitir a via em
inteiro teor diretamente). Mas acontece principalmente de não se saber de onde
exatamente o italiano veio. Ou seja, o maior dos desafios é conseguir as
certidões que estão na Itália.
Mas os problemas
não param por aí. Muitas certidões tem incoerências de datas e nomes. Coloco o
meu exemplo para que entendam.
Meu
antenato (o italiano) se chamava Stefano. No seu documento italiano estava
Stefano. PORÉMMM... ele chegou criança no Brasil e por distinção das vontades
entre os nomes que queriam para ele, passaram a chama-lo de Adócio. Isso, não tem
NADA A VER. O que acontece é que em todos os documentos brasileiros dele e dos seus
descendentes estava Adócio também. Nos documentos do meu avô, da minha mãe...
foi onde bateu desespero. Como eu provaria que o Adócio era o Stefano?
Foi onde
comecei conversar com os parentes e surgiu uma luz. Existiam primos da minha
mãe que já tinham passado pelo processo de reconhecimento da cidadania que
comprovaram judicialmente que os dois eram a mesma pessoa, e então retificaram
os documentos deles.
Quando a
diferença no nome é pequena, ex: "Giovani" para "Giovanni", ou até a tradução de "Giovani" que ficaria "João" no Brasil, a retificação pode ser aceita (ou não) direto no
cartório que vai emitir as certidões - é mais fácil. A diferença no meu caso era gigante, por isso
a preocupação. Mas com esse caso já tendo sido resolvido anteriormente, foi
preciso apenas de um documento que mostrasse esse processo de correção detalhado para que
eu pudesse corrigir todas as minhas certidões também. Todos os cartórios
aceitaram e consegui todos eles retificados, graças a Deus.
Quanto
aos documentos italianos, geralmente a certidão de nascimento do antenato é só
buscando a história da família mesmo. Conversando com os familiares,
pesquisando na internet o possível navio em que veio para o Brasil para obter
mais informações. Esse foi outro ponto que tive nas mãos, graças a Deus. Minha
família é muito grande, e um tempo antes de tudo isso começar a acontecer, um
primo da minha mãe tinha iniciado uma árvore genealógica e enviado para a gente
completar com os familiares mais próximos. Mas com ela, ele também enviou um tipo de e-book contando a história completa da minha família. Com nome de muita
gente, dos lugares de onde vieram, com quem casaram, onde no Brasil estão,
entre tantas outras coisas. Inclusive foi nele que descobri que “Adócio” era o “Stefano”,
de onde ele veio, e por isso consegui entrar em contato com a cidade onde ele foi registrado para que me
enviassem a certidão (detalho melhor esse processo no próximo post).
Resumindo: não é fácil, precisa de muita paciência e dedicação. Porééém... a vantagens são inúmeras, como já foi visto. Mas nem só nessa parte... é interessante demais conhecer história por trás da sua origem.
Enfim...
Eu
comecei a leitura desse e-book e os pedidos dos documentos enquanto eu ainda
estava no Brasil, mas não deu tempo de terminar. Teria que conseguir os
últimos, traduzir e apostilar ainda. Por isso, fiz um passo a passo
simplificado para que meus pais continuassem por mim, até que estivesse tudo
pronto para eles me encaminharem e eu verificar se seria possível ir a Itália
para o processo. E assim foi. Terminou meu período de visto na Irlanda, parti
para Itália para o reconhecimento da minha cidadania. Fiquei lá três meses (conto em breve os detalhes), e com tudo certo voltei
para Irlanda com livre acesso, sem precisar de 3mil euros para visto, sem
precisar comprovar passagem de saída do país, sem precisar comprovar seguro
saúde... nada. Simplesmente passei meu passaporte na máquina para ser
reconhecido automaticamente e entrei no país. Trabalhei à vontade sem precisar
estudar até voltar para o Brasil por escolha minha.
Tenho
total liberdade para voltar quando quiser, sem as mesmas burocracias de como
fui pela primeira vez.
Descrevi
aqui tudo muito resumido. Foram muitos imprevistos, frustrações, espera, gasto
extra, enfim... muita coisa para abordar a seguir com mais detalhes.
Então
fique de olho que logo tem mais.
**OBS:
Escrevi baseado no meu processo de reconhecimento diretamente na Itália. Porém
ele pode ser feito via Consulado no Brasil e tende a ser mais barato por não
contar com a viagem, mas a espera é longa. Na Itália o processo gira em torno
de 3 meses/ 6 meses/ máximo 1 ano nos casos mais difíceis que já soube. No
Brasil existe uma fila de espera para cada consulado (cada estado). Para dar uma
ideia, em São Paulo essa fila de espera chega a 12 anos. Pesquisa recente mostrou
que nesse ano de 2018 estão sendo chamadas pessoas que deram entrada na fila em
2006.
Para
finalizar deixo alguns registros de alguns dos maravilhosos lugares por onde
pude passar no país. Porque não é só de preocupação que se faz um
reconhecimento de cidadania direto na Itália, né?!